Minha idéia é que todos, homens e mulheres, o que quer que sejamos, devemos ser considerados seres humanos. Uma escritora conhecida recusou-se a deixar que saísse seu retrato numa série de fotografias consagradas precisamente às mulheres escritoras: queria ser incluída entre os homens, mas para obter esse privilégio utilizou a influência do marido. Lembro-me também duma jovem trotskista em pé num estrado, no meio de um comício violento e que se dispunha a dar pancadas, apesar de sua evidente fragilidade; negava sua fraqueza feminina; mas era por amor a um militante a quem desejava ser igual. O certo é que por enquanto elas existem com uma evidência total. O próprio enunciado do problema sugere-me uma primeira resposta. É significativo que eu coloque esse problema. Se quero definir-me, sou obrigada inicialmente a declarar: Sou uma mulher. É de maneira formal, nos registros dos cartórios ou nas declarações de identidade que as rubricas, masculino, feminino, aparecem como simétricas. Agastou-me, por vezes, no curso de conversações abstratas, ouvir os homens dizerem-se: Você pensa assim porque é uma mulher.
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Ah, meninas. Eu ando muito populista. Sou amigo do povo. E o povo é meu amigo. Ontem mesmo. Havia uma horda de garçons, todos de branco, todos de gravata, todos de guardanapo enrolado no braço, todos de champanhe. E olha que maravilha: ontem, meninas, eu acabei me tornando um deles. Foi assim: Andava eu olhando as belas obras do vernissage.
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Os Hanema, Piet e Angela, estavam tirando a roupa. O quarto era uma peça colonial de pé-direito baixo, de madeiras pintadas com o tom neutro de branco chamado comercialmente de casca-de-ovo. Uma meia-noite de primavera se comprimia junto às janelas frias. Que idade exatamente? Ele tem trinta anos rodando para quarenta. Ela é mais rapariga. Vinte e oito?